No show cotidiano da natureza, com as marés do rio Tocantins subindo e descendo do palco da ilha Capiteua do Carapajó, Elcione de Nazaré Silva, de 35 anos, acompanhada há quatro anos pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) de Cametá, no nordeste paraense, declara-se uma fã de açaí. “Açaí é nossa fonte de renda, nosso principal alimento, é o que existe à nossa volta. Açaí é tudo”, diz a agroextrativista.
Na casa onde ela vive com o companheiro Ronivaldo Batista, de 28 anos, e o filho do casal, Kaíque Gabriel, de oito anos, tem açaí em todo almoço, merenda e jantar. Por quinzena, a família colhe, em média, mais de 400 quilos do fruto. Tirando a subsistência, o produto é vendido nos portos da comunidade.
“O Kaíque ama com farinha-de-tapioca. Eu olho pro nosso filho e vejo um futuro, porque a gente, que é ribeirinho, trabalha para continuidade, para preservação; para, quando chegar a hora do Kaíque empreender, conquistar, estudar, ele saiba lidar com açaí,”, considera.
Elcione faz parte de um grupo de dez extrativistas que, juntos, até o fim de outubro, podem receber um total de meio milhão de reais de crédito rural para manejo dos açaizais nativos, a partir de projetos da Emater e liberação pelo Banco da Amazônia (Basa). As propostas individuais das linhas A e Floresta do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) chegam a R$ 50 mil, à vista de três a dez hectares, a depender da dimensão de cada propriedade.
Para a chefe do escritório local da Emater em Cametá, a engenheira agrônoma Anna Paula Muniz, especialista em Agricultura Integrada na Amazônia, a atuação da Emater, como órgão oficial de assistência técnica e extensão rural públicas, é muito importante: “Orientamos um processo tecnológico de manejo de açaizal de forma sustentável e de baixo impacto nas áreas de exploração, essas muito polarizadas, porque são mais de 100 ilhas habitáveis no município.
A Emater executa uma rotina de trabalho direto e indireto na maior parte das ilhas. O manejo dessas áreas depende de vários fatores, como onde se encontram, tamanho. Na atualidade, com o apoio da Emater, as famílias já se realizam bastante conscientes quanto ao manejo sustentável. Os resultados começam a aparecer em um ano”, explica.
Dos beneficiários de agora do crédito rural, dois vivem no Beradão, uma zona de transição entre terra firme e várzea, e oito são moradores das ilhas Biribatuba de Baixo, Capiteua de Carapajó, Cuxipiari, Grande do Furtado, Guajará de Cima, Itaúna, Jaracuerazinho, e Pacovatuba. No caso das ilhas, constituem assentamentos federais banhados pelos rios Tocantins e seus braços.
Texto de Aline Dantas de Miranda
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