Prefeitura de Canaã dos Carajás doa meio milhão de reais como patrocínio para torneio de pesca esportiva em Piçarra, diz colunista

Começou com as bandeirolas para enfeitar a cidade para as festas juninas – quase R$ 3 milhões. Começou é modo de dizer. Bandeirolas, não. Depois, enquanto pacientes comem o pão que o diabo amassou à espera de atendimento médico na rede pública de saúde, veio o infame convênio pelo qual a prefeita Josemira Gadelha repassa meio milhão de reais para a Prefeitura de Piçarra – distante mais de 140 quilômetros – promover um torneio de pesca. Olha, Paulinho da Viola é um profeta: “Dinheiro na mão é vendaval/é vendaval/ Não é brincadeira não…” Há de fato coisas que a vã filosofia não consegue explicar nem a pau, mas a política sabe ser cirúrgica em esclarecer. Nas redes sociais, correm fartas queixas da população do milionário município de Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará, quanto à saúde pública. Comenta-se que uma simples cirurgia para remoção de pedras nos rins e vesícula não vem sendo feita por conta, simplesmente, da indisponibilidade de um equipamento que custa – acredite! – míseros R$ 250 mil.

Vá explicar aos doentes. Não dá para explicar ao povo que fica à margem dos benefícios proporcionados pela montanha de dinheiro arrecadado a título de royalties – ainda mais quando a prefeitura acaba de doar R$ 500mil como patrocínio a um torneio de pesca esportiva no município de Piçarra, distância suficiente – perdão: dinheiro suficiente -, mal comparando, para comprar dois equipamentos de uma tacada só. O que se diz é que a explicação para tamanha bizarrice em tempos de tanta necessidade da população vem do fato de o ex-prefeito Jeová Andrade estar sendo apoiado pela prefeita de Piçarra, Laane Barros Lucena, do MDB, na disputa por uma vaga de deputado estadual. Canaã é município criado de um assentamento do extinto Getat, no tempo do saudoso Iris Pedro de Oliveira, que orbitava o Incra. Hoje, caminha para alcançar uma população de 40 mil habitantes, segundo o IBGE . Fica a 780 quilômetros de Belém e é o terceiro município que mais arrecada no Estado – mas precisa de gente séria na administração -, atrás apenas de Belém e Parauapebas: algo em torno de R$ 1,6 bi por ano – por isso cobiçado por grupos políticos locais e regionais.

 (Coluna do Olavo Dutra)